A Importância do glutamato e da glutamina para o intestino dos lactantes

A ciência é clara sobre a importância do aleitamento materno nos primeiros seis meses de vida, pois este alimento oferece os nutrientes necessários, como também proteção imunológica para o bebê. Parte destes benefícios se dá pela presença dos aminoácidos glutamato e glutamina, também formada a partir do glutamato. A composição do leite materno, diferente de outras espécies de mamíferos é específica pode suprir todas as demandas nutricionais durante os primeiros meses de vida, como relatado do capítulo “O glutamato no leite materno e no desenvolvimento do intestino do lactente”, escrito por pediatra e Manoel Baldeón e pela pesquisadora Nancy Flores, publicado em 2021 no livro “Umami e glutamato: aspectos químicos, biológicos e tecnológicos”, organizado pelo Dr. Féliz Reyes, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (BALDEÓN & FLORES, 2021).

O leite materno contém componentes que protegem o lactente de infecções e organizam a resposta imunológica no intestino, que pode ser desencadeada pela ingestão de alimentos e/ou quaisquer substâncias que não o leite materno (BALDEÓN & FLORES, 2021).

Também são encontradas no leite substâncias que incluem pequenos peptídeos, uréia, creatinina, ácidos nucléicos, aminoácidos livres, entre outros elementos que influenciam o crescimento e desenvolvimento do intestino do lactente, que são formados pelos nitrogênios que não estão presentes nas proteínas (nitrogênio não-proteico – NNP) (BALDEÓN & FLORES, 2021).

Dentre os aminoácidos livres, o glutamato, determinante do gosto umami, é um dos aminoácidos não essenciais, ou seja, que nosso próprio organismo produz, e é o mais abundante na natureza. Sua concentração no leite materno aumenta após os três primeiros meses de aleitamento, chegando a constituir aproximadamente 50% do total dos aminoácidos livres (ZHANG et al., 2013). responsável por funções fisiológicas fundamentais ao lactente. Dentre elas, o papel de fornecer energia para as células epiteliais do intestino.

Como prova da importância desse aminoácido, mesmo em períodos de jejum prolongado, quando as concentrações dos aminoácidos livres do leite materno diminuem, o glutamato e a glutamina (aminoácido não essencial produzido através do glutamato e da amônia e também presente no leite) se mantêm, o que faz com que exista algum tipo de mecanismo que regula e privilegia sua síntese e liberação para que o lactente não fique sem seus benefícios (LI et al., 2004).
Porém, para que todas as substâncias e nutrientes do leite desempenhem suas funções, é necessário que o trato gastrointestinal do lactente esteja capacitado a recebê-los, digeri-los e absorvê-los. Em outras palavras, o intestino do bebê deve estar pronto ao nascer. Para tanto, ainda no período fetal, o líquido amniótico oferece nutrientes, fatores de crescimento, hormônios, células imunes, oligossacarídeos não digeríveis, entre outros fatores que proporcionam o crescimento e que irão modular o desenvolvimento estrutural e funcional do intestino.

Uma das funções das células intestinais é prover segurança contra micro-organismos patogênicos , impedindo que eles entrem em contato com a parede do intestino. Para isso, existe uma espécie de barreira, formada por células epiteliais unidas fortemente entre si, denominada “tight junctions”. A ação dessa barreira associada à ação do muco secretado na luz intestinal irá impedir que o conteúdo indesejado entre no organismo (LI et al., 2004; BURRIN & STOLL, 2002).

Diante deste cenário, algumas pesquisas observam que a glutamina, sintetizada a partir do glutamato ou ingerida a partir da dieta, atua tanto na produção do muco quanto na manutenção da tight junctions (LI et al., 2004; BURRIN & STOLL, 2002).
Existe ainda outro componente do sistema imune localizado sob todo o tecido gastrointestinal desde a boca até o ânus. É o tecido linfático denominado GALT (do inglês: gut-associated lymphoid tissue). É nesse tecido que inicia a resposta imunológica e o processamento dos antígenos. O glutamato exerce influência sobre o GALT, potencializando seus efeitos (LI et al., 2004; BURRIN & STOLL, 2002).

Além disso, o glutamato também participa da síntese de glutationa, um tripeptídeo transportador de aminoácidos com função antioxidante. Em situações de estresse intestinal, o glutamato irá atuar, por exemplo, na eliminação de parte dos radicais livres e na proteção contra danos funcionais e estruturais (BALDEÓN & FLORES, 2021; LI et al., 2004; BURRIN & STOLL, 2002).

Portanto, fica cada vez mais claro que o glutamato, principal responsável pelo gosto umami, além de dar um toque especial no sabor dos alimentos, é fundamental para diversos processos metabólicos envolvidos desde o desenvolvimento até a funcionalidade e manutenção intestinais. Dessa forma, ele contribui com o bem-estar e a saúde do nascimento à vida adulta.