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Bem-estar

Umami ajuda no controle do peso dos bebês

O efeito do glutamato no controle da saciedade dos recém-nascidos.

A ciência já provou que o leite materno é a fonte alimentar essencial para os bebês. A Organização Mundial da Saúde recomenda que os bebês recebam exclusivamente leite materno durante os 6 meses de idade¹. No entanto, por diversos motivos, algumas mães não conseguem amamentar os seus bebês, o que eleva a demanda da produção de fórmulas infantis.

As fórmulas infantis que atualmente estão disponíveis no mercado, teoricamente deveriam ser projetadas para “imitarem” a composição do leite materno em seu conteúdo de macro e micronutrientes, possibilitando aos bebês sem acesso ao leite materno, uma opção tão quão nutritiva e protetora. Porém, os poucos estudos que analisaram a composição das fórmulas comerciais identificaram uma distância grande na concentração de alguns nutrientes presentes no leite materno, como os aminoácidos livres, por exemplo, que aparecem em quantidades significativamente menores em algumas fórmulas. Além disso, especialmente o glutamato, que é o aminoácido mais abundante no leite materno, se apresenta em concentrações bastante inferiores. Sabe-se que essa diferença na concentração de aminoácidos livres poderia alterar funções fisiológicas importantes no organismo, como a proteção da mucosa intestinal²,³.

O Centro de Pesquisas dos sentidos Monell, na Filadelfia, levantou questões relacionadas ao controle da ingestão alimentar e da regulação da saciedade. Foi verificado que alguns bebes alimentados com fórmulas infantis apresentavam um ganho de peso maior e mais acelerado do que os bebes alimentados com leite materno. Distúrbios nestes sistemas podem levar a elevação de peso já no primeiro ano de vida, o que pode aumentar o risco de obesidade, síndrome metabólica e mortalidade devido à doenças cardiovasculares. Por este motivo, surgiu a hipótese de que a quantidade de proteínas e de aminoácidos livres da fórmula é que poderia influenciar na elevação do ganho de peso. Para confirmar este fato, os pesquisadores avaliaram se a maior concentração de glutamato livre nas fórmulas infantis poderia reduzir o consumo, e consequentemente o ganho de peso, usando para isso uma fórmula controle com quantidades inferiores de glutamato para comparação⁴.

A fórmula com maior quantidade de hidrolisado proteico (FESP) apresentava quase 120 vezes mais aminoácidos livres, dentre eles, em maior quantidade a leucina, o glutamato, a lisina e a valina, respectivamente. A fórmula controle apresentava poucos aminoácidos livres detectáveis, sendo a taurina o mais abundante⁴.

Participaram da pesquisa um total de 30 bebes, de até 4 meses de idade. Todas elas já haviam consumido a fórmula controle utilizada na pesquisa, mas nunca haviam ingerido a fórmula rica em hidrolisado proteico. Uma terceira fórmula também foi criada, acrescendo glutamato livre à fórmula controle, em uma quantidade um pouco inferior à fórmula do hidrolisado proteico. Essa fórmula serviu como um segundo parâmetro de comparação e confirmação dos resultados⁴.

Durante os 3 dias de intervenção, os bebes receberam aleatoriamente as fórmulas de proteína hidrolisada, ou fórmula controle, ou fórmula controle + glutamato. Foram investigados a saciação dos bebes (processo desenvolvido durante a alimentação e que culmina no término da ingestão), através da avaliação da quantidade de fórmula consumida, e a saciedade, identificada pelo efeito prolongado causado pela primeira fórmula ingerida até o aparecimento da fome e posterior consumo da fórmula seguinte⁴.

Como resultados, os pesquisadores confirmaram as hipóteses que presumiram. Os bebês que receberam as fórmulas de hidrolisado proteico e a enriquecida com glutamato, consumiram menor quantidade, ou seja, atingiram saciação mais rápido que os bebes da fórmula controle, e a sensação de saciedade após a primeira refeição não diferiu da dos bebês que receberam a fórmula controle, mesmo que ingerida em menor quantidade. Descartadas hipóteses que poderiam ter influenciado no consumo reduzido das fórmulas com mais glutamato, foi possível confirmar que a presença de glutamato livre ajuda a regular a ingestão de energia, proteínas e aminoácidos, e pode também servir como um sinalizador de saciedade para o sistema nervoso central⁴.

Até agora era bem estabelecido que somente o aleitamento materno permitia ao bebê a auto regulação da ingestão. De fato, o aleitamento materno é indiscutivelmente a melhor forma de alimentação para os bebes e deve ser incentivado e praticado sempre que possível. Porém, esta recente pesquisa deu uma passo à frente na investigação a respeito de mais um benefício do aminoácido glutamato presente na forma livre na dieta humana, e abriu um leque de esperança e oportunidade também para os bebês privados do leite materno. O próximo passo é tornar as fórmulas infantis comerciais o mais próximo possível da composição do leite materno. Assim, mesmo os bebês alimentados artificialmente estarão mais protegidos contra diversas desordens metabólicas que podem surgir na vida adulta como reflexos do excesso de peso causado pela má nutrição já anunciada logo no início da vida.

 

Autoras:

Marília Esteves

Hellen Maluly

Referências:

¹ Organização Pan-americana de Saúde / Organização Mundial da Saúde. Amamentação. 2003. [acesso 28 mai 2012]. Disponível em: http://www.opas.org.br/sistema/fotos/amamentar.pdf

² Baldeon M, Flores N. O glutamato no leite materno e no desenvolvimento do intestino do lactente. In: Reyes FGR. Umami e glutamato: aspectos químicos, biológicos e tecnológicos. São Paulo: Editora Plêiade, 2011. 195p.

³ Chuang CK, Lin SP, Lee HC, Wang TJ, Shih YS, Huang FY, Yeing CY. Free amino acids in full-term and pré-term human Milk and infant formula. J Pedriatr Gastroenterol Nutr. 2005; 40:496-500.

⁴ Ventura AK, Beauchamp GK, Mennella JA,. Infant regulation of intake: the effect of free glutamate content in infant formulas. Am J Clin Nutr. 2012; 95:875-881.

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